Módulo inflável da empresa Bigelow na Estação Espacial Internacional.
A imagem acima corresponde ao módulo de atividade ampliável que a empresa Bigelow Aerospace conseguiu acoplar com sucesso à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) no ano passado. Trata-se de um módulo inflável, desenvolvido sob contrato com a NASA, lançado ao espaço em abril de 2016 pela empresa SpaceX por meio do foguete Falcon 9 e da nave DragonV2.
A colaboração entre o setor privado e o público vem dando bons resultados até o momento, e em alguns anos um novo competidor pode chegar a este mercado. Até agora a Bigelow era a única empresa com um desenvolvimento viável de módulos espaciais, mas nos últimos meses seu domínio parece estar ameaçado por um novo concorrente que surgiu do nada: a Axiom Space.
Desenho do futuro módulo da Axiom acoplado à ISS.
“Eles surgiram praticamente do nada e se consolidaram em apenas alguns meses,” explica Daniel Marín, astrofísico e colaborador do blog Eureka. “Até junho do ano passado ninguém havia ouvido falar deles, e agora estão lutando seriamente para liderar o desenvolvimento de módulos espaciais”.
Em seu site, a empresa anuncia orgulhosa: “A primeira estação espacial privada do mundo”, embora, como veremos neste artigo, o projeto ainda tenha muitas questões sombrias.
A primeira estação espacial privada do mundo?
A ideia, explicada de forma breve, é construir um novo módulo e acoplá-lo à Estação Espacial Internacional. O módulo da Axiom seria rígido, e não inflável como os da Bigelow, e teria um tamanho bastante considerável, e de fato, se o projeto seguir adiante, se converterá no maior módulo da ISS.
É aí que surge a primeira dúvida: Em teoria, a vida útil da ISS termina em 2024, e se os estados membros que a mantêm decidirem que chegou o momento de acabar com o seu período de vida, existem planos da Roscosmos e da NASA para realizar várias missões Progress e tirar de órbita a ISS, que seria descartada no Pacífico.
“O mais provável é que, com a chegada de 2014, os envolvidos decidam continuar mais alguns anos com a estação, mas ainda não podemos afirmar isso com segurança,” explica o astrofísico.
O que aconteceria então com o novo módulo da Axiom?
A solução é muito interessante: O novo módulo seria lançado em 2020 e se acoplaria à ISS até que a estação deixasse de operar (em 2024 ou mais adiante). Uma vez que a estação espacial não fosse mais uma opção, o módulo da Axiom continuaria sua vida no espaço de maneira individual, convertendo-se a partir de então no núcleo de uma nova estação espacial privada.
Aqui surgem novas dúvidas, como por exemplo: como criar os impulsos que manterão a estação em órbita? “A Axiom afirma que seu módulo terá seu próprio sistema de propulsão,” explica Daniel Marín, “embora por fora ele se pareça com um módulo similar ao dos Estados Unidos na ISS, na realidade ele seria mais como um módulo russo: ou seja, uma nave espacial autônoma com seus próprios sistemas de abastecimento e propulsão. Ele não precisaria estar integrado ao resto da ISS”.
Enquanto estiver acoplado à ISS, o módulo poderá aproveitar seus painéis solares e suas fontes de alimentação. A Axiom afirma que o próprio módulo teria um sistema de propulsão para elevar a órbita e abastecer seus tripulantes. Evidentemente, com o passar do tempo será necessário que uma nova nave seja acoplada para repor o combustível, e até o momento não há nada desenhado, e muito menos construído.
Imagem mostra como o módulo da Axiom se acoplaria à Estação Espacial Internacional.
Mas o assunto mais importante em todo o projeto é o financiamento para realizá-lo. A Axiom Aerospace desenhou o módulo, mas há algumas lacunas presentes no processo:
- A Axiom ainda não construiu o módulo. Ela tem o desenho, mas não tem o dinheiro para construí-lo, e isso depende de contratos públicos com a NASA.
- A Axiom não tem foguetes para lançá-lo. Neste ponto ela depende de outras empresas privadas como a SpaceX e seu DragonV2, ou a Boeing e seu Starliner.
- No ponto anterior, tanto a SpaceX quanto a Boeing só serviriam para lançar carga, e não pessoas. Para enviar astronautas à sua nova estação, a empresa precisaria da ajuda das Soyuz russas.
Um aspecto positivo é o fato de que a NASA ainda não se posicionou. Ela abriu suas opções, está estudando a possibilidade de lançamento de módulos privados, mas ainda não tomou nenhuma decisão conclusiva. A porta está aberta, mas agora, com dois concorrentes no mercado (Bigelow e Axiom), se um novo módulo for autorizado, uma licitação pública teria que ser aberta para decidir qual empresa seria a responsável por desenvolvê-lo e acoplá-lo.
Para entender um pouco melhor o panorama geral, é preciso dizer que a Axiom fechou recentemente um acordo com a ULA para utilizar o Atlas V, mas de novo o problema do dinheiro segue presente. “Isso também não é conclusivo e não significa muito,” afirma Marín. “A ULA é uma empresa e ficará feliz em lançar o que quiserem, mas será preciso pagar o preço”.
Metas da empresa: “Treinar astronautas em 2017 e iniciar a missão em 2019”.
Além de tudo isso, a grande questão que ainda não abordamos é: quem vai viajar ao espaço?
“Esta é a grande pergunta,” diz Daniel Marín, “porque não sabemos se realmente há um mercado viável para os módulos privados”.
Todos os movimentos da Axiom indicam que, a curto prazo, o que a empresa está buscando são financiamentos da NASA e de fontes públicas por meio do investimento em novos experimentos, novas instalações que possam ser acopladas nestes novos módulos.
Trata-se de uma empresa privada que, obviamente, abre suas portas para financiamentos privados de universidades, empresas e centros de pesquisa que queiram investir no espaço. No entanto, ainda não sabemos se este mercado pode ser atrativo para o setor privado, para visitantes milionários ou para instituições com interesses espaciais.
Conclusão: A ideia é boa, e testemunhamos o surgimento de um novo competidor que desenvolveu um novo modelo de estação a curto e médio prazo. No entanto, se a empresa quer cumprir seus próprios prazos, treinar astronautas em 2017 e lançar o módulo em 2020, terá que conseguir a aprovação da NASA e uma grande colaboração do restante das empresas envolvidas.
Portanto, até o momento, a única coisa que temos é uma enorme campanha de publicidade para chamar atenção para o projeto. O resto, teremos que esperar para ver.